Artefacto Burbur, um poema do livro "¿Quem nos defende a nós dos idiotas? "

Com motivo do Dia das Letras Galegas, que se celebra em 17 de maio, deixo aqui um poema sobre língua, línguas e outras cousas.


O livro completo pode ser consultado aqui.

Artefacto Burbur
“Si seguimos utilizando el lenguaje en su clave corriente, con sus finalidades corrientes, nos moriremos sin haber sabido el verdadero nombre del dia”
(Julio Cortázar)
António Udina está morto
e também está morto Elvis
dizem os Living Colour
Elvis era branco
dizem
e por isso gravava muitos discos
Se for negro não poderia
não poderia nem ranhar na guitarra
António Udina não era negro
mas desde logo não falava uma língua de brancos
Talvez esteja entre nós o nosso António Udina particular
Ele quando era pequeno não imaginava que ia ser António Udina
e centos de milheiros de estudantes saberiam dele
e saberiam de memória a data da sua morte
Ele não sabia
E Elvis também não
Mas Elvis era branco
E António Udina não falava uma língua de brancos
Além disso falava vegliota
Elvis fazia rock porque vendia
António Udina falava vegliota mas ele não sabia
porque já em 1898 não ficava ninguém que falara raguseo
Chamava-se António Udina mas também lhe chamavam Burbur
A Elvis chamavam-lhe El-Rei
The King em inglês que parece mais importante
mas Elvis era branco
e por isso podia ser El-Rei
António Udina só podia ser Burbur
Entre nós nunca haverá um Elvis
a não ser que se faça branco e fale com a língua dos brancos

Mas todos somos António Udina
e nos chamam Burbur
Elvis era branco e por isso gravou muitos discos
António Udina não era negro
mas a sua língua não era de brancos
mesmo que todos falamos dálmata alguma vez na nossa vidaArtefacto Burbur

“Si seguimos utilizando el lenguaje en su clave corriente, con sus finalidades corrientes, nos moriremos sin haber sabido el verdadero nombre del dia”
(Julio Cortázar)

António Udina está morto
e também está morto Elvis
dizem os Living Colour
Elvis era branco
dizem
e por isso gravava muitos discos
Se for negro não poderia
não poderia nem ranhar na guitarra

António Udina não era negro
mas desde logo não falava uma língua de brancos
Talvez esteja entre nós o nosso António Udina particular
Ele quando era pequeno não imaginava que ia ser António Udina
e centos de milheiros de estudantes saberiam dele
e saberiam de memória a data da sua morte

Ele não sabia
E Elvis também não
Mas Elvis era branco
E António Udina não falava uma língua de brancos
Além disso falava vegliota
Elvis fazia rock porque vendia
António Udina falava vegliota mas ele não sabia
porque já em 1898 não ficava ninguém que falara raguseo
Chamava-se António Udina mas também lhe chamavam Burbur

A Elvis chamavam-lhe El-Rei
The King em inglês que parece mais importante
mas Elvis era branco
e por isso podia ser El-Rei
António Udina só podia ser Burbur
Entre nós nunca haverá um Elvis
a não ser que se faça branco e fale com a língua dos brancos

Mas todos somos António Udina
e nos chamam Burbur
Elvis era branco e por isso gravou muitos discos
António Udina não era negro
mas a sua língua não era de brancos
mesmo que todos falamos dálmata alguma vez na nossa vida

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